Digo que perdoar é uma arte porque
perdoar não é nada fácil! Não é fácil esquecer a mágoa causada por alguém,
principalmente quando a pessoa não merecia ser magoada. Não é fácil vencer o
primeiro impulso que temos de revidar a ofensa, devolver o ultraje... Mas, em
vez disso, guardar silêncio. É preciso muita coragem, muita força de vontade,
muita pureza de coração e uma crença inabalável na justiça divina. Por isso,
repito, perdoar é uma arte... Arte que, pelo menos até os dias atuais, são muito
poucos aqueles que têm a sabedoria e a magnitude de saber perdoar.
A primeira reflexão sobre esse tema é
fazer um rigoroso exame de consciência para perguntar a si próprio se existe
alguém perfeito; alguém capaz de nunca cometer um erro. Claro que não! Em algum
momento da vida, qualquer um de nós e falível. E os erros mais graves são
aqueles impulsionados pelo ódio, pelo desejo de vingança, pelo ciúme, pela
inveja, pelo orgulho... ou
seja, por todos esses sentimentos negativos dos quais ninguém, em sã
consciência, pode se orgulhar de nutrir.
Bem aventurados aqueles que são
misericordiosos, porque eles próprios obterão misericórdia
(S. Mateus). Ou seja, se nós perdoarmos as
falhas que alguém cometeu contra nós, Deus também perdoará nossas falhas. Se
alguém nos magoou, o mais correto é dirigir-se diretamente à pessoa em questão,
perguntar-lhe o porquê da ofensa e resolver a questão em particular. Se quem
magoou se explicar e quem foi magoado entender seus motivos, de um diálogo
pacífico e sincero poderá ocorrer a reconciliação, que será benéfica para ambos.
Se a boa vontade de quem foi ofendido for inútil, o problema é do ofensor. O
importante é não entrar nessa sintonia negativa que só traz prejuízos físicos e
emocionais.
Como
se proteger? Através do perdão. Isso não significa, porém, ter que oferecer a
sua amizade e o seu abraço ao inimigo. Mas apenas afastar-se e ignorá-lo, sem
devolver-lhe nem o rancor nem a ofensa.
E
quantas vezes tenho que perdoar meu irmão? Sete vezes?, perguntou São Pedro a
Jesus; que por sua vez lhe respondeu: Sete vezes, não; mas sim setenta
vezes sete.
Geralmente, julga-se que morrendo o inimigo, o perigo também morre. Essa idéia
só ocorre principalmente na mente daqueles que não acreditam que a alma é
imortal. A verdade é que o inimigo continua existindo, só que num outro plano.
Também é ilusão pensar que quem morre fica, de repente, bom. Uma pessoa ruim,
continua ruim e, se o ódio persitir nela, vai continuar perseguindo aqueles a
quem odeia. A única forma de se proteger dessa perseguição é através do perdão,
da misericórdia e da oração; pedindo a Deus proteção para si e luz para o
espírito que insiste em permanecer nas trevas.
Outra
grande ilusão de alguns fiéis a Deus é julgar que sacrifícios físicos, tais como
subir uma escadaria de joelhos, seria uma forma de agradar a Deus. Deus não quer
o sofrimento físico de ninguém. Qual é o pai que gostaria que seu filho se
machucasse por amor a ele? Nenhum!
O
sacrifício físico quando é inútil não tem valor algum, pelo contrário. Por
exemplo, uma pessoa que passa a noite em claro para cuidar de outra, que está
enferma; esse, sim, é um sacrifício válido, mas quando não traz nenhum
benefício, é inútil.
Ama a teu próximo como a ti mesmo
quer dizer não causar nenhum mal aos
outros; muito menos a você mesmo.
O
sacrifício que mais agrada ao Pai é que seus filhos se perdoem mutuamente as
falhas cometidas, que se arrependam dos seus erros e que se cuidem para não
repeti-los... Reconciliem-se e vivam em Paz tanto na Terra como no Céu.
Não julgueis, a fim de que não
sejais julgados. Aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra.
(KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Cap. X)
Nair Lúcia de Britto.